sábado, 22 de janeiro de 2011

Comentário ao texto "Na senda da evolução tecnológica na Educação a Distância"

Imagem criada em www.glassgiant.com


A escola onde leccionamos está a ser intervencionada pela Parque Escolar. Nesta fase são muitos os computadores, quadros interactivos, videoprojectores que estão a ser colocados nas novas salas; são a lufada de ar fresco que muitos docentes afirmam necessitar para inovar e tornar o ensino mais atractivo, motivador e interessante.
Tememos que seja um entusiasmo passageiro servindo o videoprojector para mostrar apresentações em powerpoint, de uma forma estática mantendo o método expositivo, ou então, recorrendo à Internet para mostrar vídeos ou outros conteúdos, não os usando para promover o trabalho colaborativo, demonstrando que a utilização da tecnologia na educação não assegura a construção de conhecimento nem significa inovação (Bettencourt-da-Cruz, 2006).
Relativamente à Educação a Distância (EaD) no nosso país, a sua implementação tem de ter em conta a abordagem pedagógica a realizar, o público que recorre a este tipo de ensino e os benefícios da sua utilização, devendo os aprendentes estar conscientes que esta é uma metodologia centrada na auto-aprendizagem, implicando responsabilidade pela organização do seu tempo de estudo, o que exige maturidade e a adopção de suportes tecnológicos adequados (hoje em dia baseadas na Internet). A diminuição de custos, a rapidez de acessos, a eficácia, a comunicação síncrona e assíncrona de resposta quase imediata, são aspectos importantes para o êxito do processo de aprendizagem.
As novas “gerações de EaD” não surgem para substituir as anteriores antes as complementam, coexistindo. Não existe nenhuma geração melhor que a outra, mas sim a mais adequada ao contexto em que a EaD será inserida, relacionada com os interesses dos formandos e o objectivo da formação. No ensino básico e secundário, a EaD terá de ser associada ao ensino presencial, porque os alunos não terão maturidade suficiente e podem perder motivação, sendo a presença física do professor fundamental para os orientar no seu estudo. Tendo presente as três dimensões onde as tecnologias e os serviços são essenciais neste processo EaD – “(i) na mediatização dos conteúdos pedagógicos; (ii) na mediatização da relação entre alunos/professores e entre aluno/aluno e (iii) na mediatização da interacção dos alunos com os serviços da instituição.” Gomes (2008, p.183) – faremos uma breve reflexão relativa a cada uma das gerações da EaD e a sua utilização nos dias de hoje, tendo por base os objectivos referidos habitualmente pelos alunos desta modalidade de ensino.
Na primeira geração, “ensino por correspondência”, a mediatização dos conteúdos efectuada em formato papel e a sua distribuição através de correio postal, implicava que a comunicação entre professor/aluno fosse escassa e assíncrona, fazendo com que o feedback resultasse retardado no tempo. Isto conduzia à perda de interesse do aluno, devido à demora em ver resolvidas as suas dúvidas, sendo uma formação muito demorada. Assim, neste momento, com a massificação da informação, não se justifica este tipo de ensino.
Com a segunda geração de EaD, marcada pelas transmissões directas ou gravadas de televisão ou rádio, surge o conceito de tutor – professor que tem a seu cargo diversos alunos inscritos no curso – e, através de conversas telefónicas eram possíveis as comunicações aluno/professor. Este tipo de formação poderá revelar-se eficaz se o aluno for autodidacta, conseguindo, só por ouvir uma gravação, dar continuidade ao estudo. Contudo, nesta modalidade, não é fácil a articulação entre distintas áreas temáticas.
A terceira geração do EaD foi marcada pela interactividade entre aluno e os recursos multimédia e pela comunicação não só professor/aluno mas também entre aluno/aluno. A facilidade de os alunos conseguirem interagir através de correio electrónico é de salientar, pois a partilha de saberes faz com que se construa conhecimento, deixando de ser uma aprendizagem isolada, existindo grupos que partilham interesses e saberes. A desvantagem continua a ser a comunicação assíncrona que, por vezes, não é tão rápida como se desejaria e por outro lado, os alunos poderem não estar interessados em partilhar conhecimento entre si.
Relativamente à quarta geração, designada por Gomes (2008, p.191) como “geração e-learning”, a existência das ferramentas Web 2.0 (blogues, wikis, webquest) promove a interacção entre todos, com feedback imediato, mas nem sempre bem conseguida. Nesta geração, em que todos podem e querem contribuir, acaba por faltar tempo para agrupar tanta informação por temas e interesses, multiplicando-se locais com as mesmas informações, de uma forma desorganizada, dificultando a distinção das fontes originais e pertinentes.
A geração seguinte, denominada de “mobile learning”, pode ser uma forma de educação adequada aos jovens que comunicam quase compulsivamente através de mensagens electrónicas, seguindo conversas paralelas muitas vezes inacabadas, onde o tempo e espaço não constituem entraves para a aquisição de novos conhecimentos, em ambientes marcados por intensa interacção.
Os “ambientes virtuais” são a característica da 6ª geração, constituindo o second life um dos exemplos. É aliciante a possibilidade de construir uma vida paralela, diferente da vida real, encarnando uma personagem e espaço, idealizados por cada indivíduo (avatar), onde podemos, entre outras funcionalidades, conversar através de chats, fóruns, e até por voz, com a hipótese de guardar apresentações. Ser multitarefa é o sonho de qualquer um – conseguir dedicar-se ao desporto, à política, ao ensino em simultâneo. Como refere Mattar (sd, p.7) “(…) o aprendiz convive na realidade virtual com a imagem da informação, podendo aliar a imagem a textos, sons e vídeos, refletir, questionar e fazer anotações, modificar o mundo ao seu redor e inclusive construir novos ambientes.”. As vantagens da comunicação síncrona, o feedback directo, a construção de conhecimento através da vivência de acontecimentos, são potencialidades que se destacam nos exemplos referidos por Pita (2008). Mais do que noutra geração de EaD, a organização pelo professor de situações de aprendizagem, inspiradas pelo modelo tradicional, restringe as potencialidades que estes tipos de ambientes deveriam criar. Como refere Bettencourt & Abade (2008, p.15), “A tendência de transposição de modelos de ensino pré-existentes para o mundo virtual da SL pode fazer perigar as potencialidades educativas desta e funcionar como um elemento redutor e estagnante das inovações que se antevêem na correcta exploração educativa da SL.”
Até que ponto as novas modalidades de EaD podem colocar em causa a manutenção do ensino presencial?

Referências Bibliográficas
Bettencourt-da-Cruz, T. (2006).  A Internet na Construção de Conhecimento Didáctico. Tese de Doutoramento, Universidade de Aveiro.
Bettencourt, T. & Abade, A. (2008, Janeiro-Dezembro). Mundos Virtuais de Aprendizagem e de Ensino – uma caracterização inicial. Revista Iberoamericana de Informática Educativa. 7/8, 3-16. Acedido em 13 Janeiro 2011, de http://161.67.140.29/iecom/index.php/IECom/article/viewFile/159/153
Gomes, M. (2008). Na senda da inovação tecnológica na Educação a Distância. Revista Portuguesa de Pedagogia. 42-2, 181-202. Acedido em 6 Janeiro 2011, de http://hdl.handle.net/1822/8073
Mattar, J. (sd). O uso do second life como ambiente virtual de aprendizagem. Acedido em 14 Janeiro 2011, de http://www.anped.org.br/reunioes/31ra/1trabalho/GT16-4711--Int.pdf
Pita, S. (2008). As Interacções no Second Life: a comunicação entre avatares. Prisma.com, 6, 3-18. Acedido em 15  Janeiro 2011, de http://prisma.cetac.up.pt/3_Interaccoes_no_Second_Live_Sara_Topete.pdf

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